way2themes

Resenha: Vase de Noces (1975)

Por: | 03:32


Avaliação

Nos tempos modernos, este pode ser considerado somente mais um filme bizarro para a filmografia obscura do cinéfilo. Mas para a época em que foi lançado, repercutiu a Austrália com um extenso e polêmico histórico devido ao conteúdo. Após ter a exibição questionada, censurada e proibida mediante solicitação do governo Australiano por infringir leis de obscenidade e moral. O diretor Thierry pediu que a exibição fosse reconsiderada. Com êxito em sua solicitação, e desacatando o próprio governo Australiano (o que gerou e manteve um conflito por anos) o filme finalmente foi exibido pelo Festival Internacional de Artes de Perth. E desde então, por anos assim foi exibido, em festivais. Uma película quase perdida.

O filme conta a história de um homem vivido por Dominique Garny, cujo possui um grau de insanidade mental não especificado.  Ele vive em meio à uma fazenda na Bélgica e convive como e com outros animais. O foco do filme se volta para a afeição e desejo sexual que ele tem por uma porca, vindo até a ter relações com ela. Após dar a luz, (não sei por qual tipo de fecundação, sendo que não é mostrado outro animal de sua espécie durante todo o filme) a porca entra em repouso e o homem passa a cuidar das crias como se fossem suas. Porém, vendo que os filhotes preferem a mãe à ele e se dado por rejeitado, o homem pendura os três filhotes pelo pescoço até que a vida os abandone. A mãe, ao vê-los mortos, percorre em desespero e aos grunhidos toda a zona ao redor da fazenda, vindo a cair em uma poça de lama e se afogando. Ou como dizem em outras versões, vindo a suicidar-se. E não podendo sobreviver a perda da amada, o rapaz se enterra vivo ao seu lado, mas fracassando ao tentar se juntar a ela. Enfurecido, começa a destruir boa parte dos objetos ao seu alcance. Para quem achou que a zoofilia já era o suficiente, se prepare estomacalmente para coprofagia, com sucos de excrementos e urina preparados pelo rapaz. Ao final, no ápice de sua solidão, ele se enforca no topo de uma escada e a película é finalizada com sua alma flutuando no ar.





A atmosfera do filme é bastante melancólica, afetando diretamente o psicológico do espectador. Embora o romance bestial roube a atenção de outros detalhes, eles ainda se destacam diante dos nossos olhos. Nos aprofundamos em limitadas cores, no ponto mais delicado e sombrio da humanidade, nossa natureza. O que nos faz acreditar que nossa espécie é tão superior aos outros animais. Por que somos os únicos a serem racionais? O personagem interpretado por Dominique mostra através de um comportamento doentio e anormal, além de não pronunciar uma palavra sequer, o que representa a ausência da racionalidade humana. É anormal para o espectador, mas talvez não seja para os perus e as galinhas. Um homem simples, sem vaidade e muita higiene que vive bem em um habitat que não é seu. E se conforta onde puder, assim como os outros animais supostamente inferiores à nós A maneira como come, defeca e interage com o restante do grupo, isso é o que seriamos, isso é o que somos, lá no fundo. É a imundice e repugnância que se esconde no interior da raça humana.

Uma obra depreciada e discriminada por ter um conteúdo nu, cru e tão mal interpretado. E companhado de uma trilha sonora sombria e arrastada, "Vase de Noces" também conhecido como "The Pig Fucking Movie", do gênero "Natureza Obscura" junto de Taxidermia e "A Serbian Film", traz um tanto do que condiz nossa natureza com a de nossos "semelhantes", que mesmo mostrado da maneira mais repulsiva possível, não ofuscou a doçura e delicadeza em preto e branco.

Direção: Thierry Zéno.
Elenco: Dominique Garny